13 de jan. de 2010

A convivência das diversidades

Claude Lévi-Strauss e a convivência das diversidades

Fonte: RH.com.br - Gustavo Gomes de Matos

Conflitos, guerras, acidentes, erros e falhas operacionais, desperdício de alimentos e dinheiro. Poderia enumerar uma lista gigantesca das consequências geradas por erros ou simplesmente pela falta de comunicação e relacionamento humano.
Parece incrível que algo tão óbvio seja tão difícil de ser compreendido e resolvido. A sociedade dita civilizada é o exemplo mais explícito da complicação na comunicação, exatamente pela falta de conscientizaçã o sobre a importância do relacionamento humano que se baseia, essencialmente, na convivência das diversidades.
Ao lermos textos sobre a biografia e o legado de Claude Lévi-Strauss para a antropologia podemos perceber uma de suas principais conclusões: "somos diferentes, sim, mas podemos nos entender, porque nossas estruturas mentais funcionam da mesma maneira".
O pensamento e as constatações de Lévi-Strauss reforçam o fato de que as diferenças culturais são as mais diversas e peculiares, porém, os dilemas existenciais do ser humano são os mesmos. Tanto para um esquimó, um pigmeu, um empresário ou um operário, as aspirações por felicidade e os sentimentos de carinho, afeto, medo e coragem são iguais, o que mudam são os mitos, ritos, comportamentos e maneiras de manifestá-los. Por essa perspectiva, ele ressaltou que todo o significado produzido dentro de uma cultura é fruto das inter-relações humanas, que faz com que a realidade social s eja construída por um conjunto extraordinariamente multidiversificado de relações.
Princípio básico da democracia, a convivência das diversidades é um dos principais obstáculos para a construção de realidades sociais, políticas, econômicas e empresariais mais justas e harmoniosas. Focando nos ambientes corporativos, podemos perceber que ainda há muito a evoluir em termos de relacionamentos harmoniosos e integrados. A competição predatória predomina em detrimento à cooperação e ao fortalecimento dos vínculos de relacionamento humano.
Realmente, falta muito bom senso ao ser humano. É impressionante como, apesar de toda a evolução do pensamento e os aparatos tecnológicos, ainda nos rastejamos em termos de convivência das diversidades, ou seja, em se tratando de relacionamento humano, somos verdadeiros trogloditas.
A sociologia, a antropologia e a psicologia social já produziram as mais diversas fundamentações conceituais para agirmos de forma mais humana e solidária. O alento espiritual proporcionado pelas religiões também poderia ter ajudado bastante o ser humano em sua busca de evolução e transcendência, se não houvesse a deturpação gerada pela disputa de poder nas esferas políticas e institucionais. Aos trancos e aos solavancos, persistimos nos trilhos da ignorância emocional, fortalecendo os princípios do eterno retorno das intolerâncias e discriminações.
Cabe aos profissionais de RH refletirem sobre a realidade descrita acima - e tão bem realçada por Lévi-Strauss -, para transpor os obstáculos de condicionamentos culturais e comportamentais que impedem a construção de ambientes corporativos de convivência produtiva e coexistência criativa.
O bom senso nos indica que a melhoria da qualidade de vida nas empresas, nas famílias, nas cidades, nos países e no planeta passa pelo caminho da educação, da comunicação e do relacionamento.
O modo de relacionamento entre pessoas num grupo de trabalho é determinado pela forma como as diferenças são encaradas e tratadas. Por exemplo: se houver no grupo respeito pela opinião do outro, se a ideia de cada um é ouvida, se os sentimentos puderem ser manifestados, então o relacionamento entre as pessoas tende a ser diferente daquele onde não existe compartilhamento de ideias, emoções e opiniões.
Como disse Mario Quintana, em um dos seus belos poemas, "cada ponto de vista é a vista de um ponto". Vamos respeitar a maneira de ser, pensar e agir de cada um. Quando for o caso de um ponto de vista torto e preconceituoso, vamos tentar mudá-lo pela força do exemplo efetivo dos valores éticos e humanos. Pessoas diferentes, com perfis, pensamentos e comportamentos diversificados, podem trabalhar juntas, voltadas para resultados e metas em comum, tais como: felicidade e sustentabilidade.
Vamos dar mais chances à evolução dos valores humanos nas empresas, por meio da criação de tempo e de espaços voltados à reflexão, ao diálogo e à humanização dos relacionamentos. Os profissionais de RH têm esse grandioso desafio pela frente.

Gustavo Gomes de Matos é Jornalista, pós-graduado em Administração de Recursos Humanos (PUC/RJ) e especialização em Economia (UERJ). Consultor de Comunicação Empresarial, com 18 anos de atuação para grandes organizações do setor privado (CNI, SENAI Nacional, Firjan, Motor Union Seguros, Engemaq e Grupo Carta Fabril) . Professor universitário e conferencista de Comunicação Corporativa. É professor de pós-graduação em Comunicação Empresarial da Universidade Federal de Juiz de Fora - Faculdade de Comunicação (UFJF/Facom) . É autor dos livros A Cultura do Diálogo (prefácio de Norberto Odebrecht) - Editora Campus/Negócio, 2006 - e Comunicação Empresarial Sem Complicação Como simplificar a prática da comunicação nas empresas (prefácio de Idalberto Chiavenato)- Editora Manole, 2008. É autor também de obras institucionais, tais como: Visão de um Empreendedor - (Engemaq-RS) ; PUC Rio 60 ANOS - Uma história de solidez; e Décadas Vitoriosas - A história dos 60 anos do SENAI. Realiza palestras e workshops, com periodicidade, para empresas e instituições, tais como: Bradesco Seguros e Previdência, IBOPE, Universidade Corporativa da Petrobras; Associação Brasileira de Ouvidores (ABO/Rio), Associação e Sindicatos dos Bancos RJ, SEBRAE-RJ, Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), entre outras. É diretor da FGM Consultoria Ltda. - www.fgmconsultoria. com.br.